domingo, 31 de maio de 2015

Quando me Tornei Invisível

Já não sei em que datas estamos, nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo. E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.

Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor ainda acompanhada das minhas netas, agora ocupo o anexo, no quintal de trás. Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites, que por ali sopra um ventinho gelado aumentam mais as minhas dores reumáticas.

Um dia à tarde dei conta que a minha voz desapareceu.

Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivessem com eles. Ás vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas não me olham, nem me respondem, então retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão ... mas ninguém vem.

No dia seguinte disse lhes:

- Quando eu morrer, então sim vocês irão sentir a minha falta.

E meu neto perguntou:

- Estás viva avó? ( rindo)

Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã, um dos netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu , foi então que me convenci de que sou invisível.

Uma vez os netos vieram dizer-me que iriamos passear ao campo. Fiquei muito feliz, fazia tanto tempo que não saía! Fui a primeira a levantar, quis arrumar as coisas com calma, afinal nós velhos somos mais lentos, assim arranjei-me a tempo de não atrasá-los. Em pouco tempo, todos entravam e saíam correndo da casa, atirando bolas e brinquedos para o carro.

Eu já estava pronta e muito alegre, parei na porta e fiquei à espera. Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não cabia no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tinha vontade de chorar.

Eu os entendo, são jovens, riem, sonham, se abraçam, se beijam e eu e eu .... Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços, como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. 

Mas um dia...

Um dia a minha neta que acabava de ter um bebê me disse que não era bom que os velhos beijassem os bebês por questões de saúde. Desde então, não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de contagia-los! 

Eu não tenho magoa deles , eu perdoo a todos , porque que culpa têm eles, de que eu tenha me tornado invisível?

Texto original - " El dia que me volvi invisible "
Autora - Silvia Castillejon Peral
Cidade do México - 2002

domingo, 17 de maio de 2015

A depressão

Quando se olha o mundo de fora é muito fácil dizer o que se deve fazer, como e até quando. Achamos soluções para todo mundo, desde que não estejamos envolvidos. É fácil falar da dor que não sentimos, do amor que não perdemos, dos problemas que não temos e da vida que não vivemos. Somos assim muito sábios quando o espinho não está em nós!

Os altos e baixos são comuns a todo mundo. Ninguém vive em linha reta. E há pessoas que suportam mais facilmente as subidas e descidas da vida que outras, como umas pegam certas doenças e outras não. Há coisas que não se controla, pois se tivéssemos escolha, optaríamos sempre por uma vida sã.

A depressão é uma doença como qualquer outra, não um capricho de quem deseja mais do que a vida pode oferecer. Só quem passou ou passa por isso sabe entender o que é. E como toda doença, deve ser reconhecida, entendida e tratada como tal.

Infelizmente todo mundo não está preparado para ajudar em casos assim e tentam resolver os problemas mostrando que há pessoas mais infelizes. Contudo, não é possível minimizar a dor de ninguém, fazendo-o comparar sua infelicidade com as misérias do mundo. Ninguém pode se sentir melhor porque do lado de fora há mais sofrimento. Se fosse assim, seria fácil ir dormir feliz a cada dia, bastando assistir ou ler jornais.

É claro que muitas vezes vemos uma coisa triste e pensamos no quanto somos abençoados por não vivermos aquilo. Isso é normal para todo mundo, nos faz refletir sobre a realidade da vida. Mas se passamos nossa vida com comparações não vamos a lugar nenhum, pois sempre haverá parâmetros diferentes e acabaremos nos sentindo perdidos.

Precisamos respeitar a dor e sentimento do outro, como respeitamos os limites do seu jardim. 

Cada vida é única, é própria. Podemos ajudar uma pessoa depressiva mostrando-lhe o lado belo da vida, dando-lhe razões para olhar além do horizonte, criar objetivos e acreditar neles. Podemos tirá-la do isolamento em que se encontra dando-lhe palavras de reconforto e amizade, fazendo-a sentir-se amada e útil. 

Lembre-se da seguinte verdade: 'dizer a um depressivo que seus problemas são mínimos porque há coisas piores na vida não o fará sentir-se melhor.'

Quando Jesus se referiu à pessoas com problemas e ansiedades, mandou que olhassem os lírios dos campos e as aves no céu, ou seja, ele apontou para coisas bonitas e alegres, nunca disse para olharem os necessitados. E ele teve, também, seu momento de dor, tristeza e lágrima, como todo ser humano.

As soluções para os problemas começam com o reconhecimento deles.

Ter amigos que possam compreender já é um passo na direção da cura. A compreensão da dor do outro leva-lhe segurança. E, segura ... uma pessoa poderá se levantar e recomeçar seu caminho, com toda ajuda que ela deve ter.

Depressão? Uma doença sim. E médicos são úteis. Amigos são preciosos. Orações são imprescindíveis.

Letícia Thompson

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Fatos ...

Quero distância de gente que escurece meu tempo. Gente nublada, gente que de longe você já enxerga a trovoada que nos espera. É pessimismo de um lado, mal humor do outro. Independente do clima lá fora, aqui dentro, hoje é só de claridade.
 
Se não for pra deixar meu dia aquecido e cheio de positividades, dê "meia volta". Sei que é duro fugir de algumas pessoas e situações.

Mas enquanto eu puder adoçar meu dia, eu vou tentar. Enquanto eu puder desviar, farei. 

Agora, se quiser me acompanhar ... se deixar levar e contagiar, pode vir. 

Minha claridade tá alcançando longe! E espero que a sua também!

De amor e esperança por dias, lugares e pessoas melhores eu viverei. 

A vida já está escura demais, deixa seu cantinho evidente, iluminado e mostre a parte doce e aconchegante que você é, que você transmite! 

Thalita Souza

domingo, 5 de abril de 2015

O Tempo

O tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções.

Faz, sim, todo o sentido. Na hora da saudade, da tristeza, do desamparo, é com ele que contamos ... o tempo!

Queremos dormir e acordar dez anos depois curados daquela ideia fixa que se instalou no peito, aquela obsessão por alguém que já partiu de nossas vidas.

No entanto, tudo o que nos invadiu com intensidade, tudo o que foi realmente verdadeiro e vivenciado profundamente não passa. Fica. Acomoda-se dentro da gente e de vez em quando cutuca, se mexe, nos faz lembrar da sua existência.

O grande segredo é não se estressar com este inquilino incômodo, deixá-lo em paz no quartinho dos fundos e abrir espaço na casa para outros acontecimentos.

Nossas atenções precisam ser redirecionadas. Ficar olhando antigas fotos, relendo antigas cartas ou lembrando antigas cenas é tirar a dor do quarto dos fundos e trazê-la para o meio da sala. 

Evite!

O tempo só será generoso na medida em que você usá-lo para fazer coisas mais produtivas: Procurar amigos sumidos, praticar um esporte, retomar um projeto adiado, viajar. As atenções têm que estar voltadas para os lados e para a frente.

O quartinho dos fundos tem que ficar fechado uns tempos, a dor mantida em cativeiro, sem ser alimentada. Amores passados contentam-se com migalhas e sobrevivem muito. Ajude-se, negando-lhes qualquer banquete. 

A fartura agora tem que ser de vida nova!

Martha Medeiros

domingo, 15 de março de 2015

Histórias Que a Vida Conta ...

Você pode até pensar que é o fim do mundo, mas não é. Você acha que a sua dor é a pior de todas as dores já existentes, mas está enganado.

Fácil é sofrer, passar dias trancado no quarto, chorar até que a última gota do seu corpo se esgote. 

Difícil é superar! E mais difícil ainda é se convencer de que superou. 

Fácil é acabar com a vida pra acabar com a dor, difícil mesmo é levantar todos os dias com um buraco no peito e colocar a roupa de existir.

Dizer que está bem é fácil, complicado é estar. Escutar aquela música, sentir aquele cheiro e visitar aquele lugar parecem ser coisas que ardem o fundo da alma, porque as lembranças doem como álcool em ferida aberta.

Mas a verdade é que não sentir mais nada dói bem mais.

O fim de um sentimento é mais triste do que o seu fim propriamente dito. É mais difícil enterrar histórias, momentos e sorrisos à enterrar-se. Enquanto ainda há uma faísca em meio ao fogo apagado, de certa forma também ainda há importância.

Sofrer por se importar é natural, estranho é sofrer por não fazer mais diferença alguma.

Continuar dentro de uma bolha de solidão e sofrimento é escolha sua, assim como lutar pra sair dela também. 

Fácil é olhar a vida passando e ficar estático no mesmo lugar, amargurado, desiludido, cabisbaixo. Difícil é assumir que está no fundo do poço e, sim, precisa de ajuda. 

Difícil é estufar o peito e não se deixar abalar por nada. Fácil é chorar pela cicatriz adquirida, difícil é aceitá-la como uma tatuagem interna que faz parte de você.