domingo, 23 de fevereiro de 2014

Sentimentos ...

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? 

Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal.

Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. 

Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. 

Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar.

Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.
Martha Medeiros

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Simples assim!

"Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram."

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Esperança em meio ao caos

Fala pessoal, belezinha?

Estamos em pleno verão aqui no Brasil e o calor excessivo tem sido de certo modo angustiante. Sempre gostei do verão, mas ultimamente tenho revisto meus conceitos, acredito que ‘tudo o que é demais é peso’, como dizia a minha já falecida sogra.

Estou sentado junto à mesa com meu notebook escrevendo estas palavras e viajando em meus pensamentos. Estas viagens tem se tornado mais constantes a cada dia, pois quando se perde o foco na vida, a mente vagueia em busca de explicações, navega entre seus questionamentos e principalmente se culpa por escolhas erradas.

Vou me explicar melhor:

Quando tive a certeza que perderia meus privilégios batalhados por décadas na congregação à qual pertenço em 2011, eu tinha certeza absoluta que perderia o meu norte. E assim se deu!

Mergulhei para dentro de mim, me revirei todo, digeri tudo como se tomasse um cálice do mais poderoso veneno existente. Provei doses extremas. Como consequência: adoeci, me encurvei, senti dores excruciantes, vi a insanidade se tornar babá até mesmo de meus sentimentos mais nobres, mergulhei na tristeza e me despedi da vida até finalmente morrer. 

E em meus instantes finais, com o último suspiro ainda preso em meus pulmões, eu também tive certeza absoluta que seria difícil demais ressuscitar.

É incrível como podemos ser autodestrutivos em alguns momentos. Mas você deve estar se perguntando: “Por que você não seguiu em frente, ou deu a volta por cima, ou não mandou tudo de vez pelos ares? Afinal, a vida continua!”

Minha resposta? Sim, a vida continua!

Mas, mesmo sabendo deste fato, continuei ali deitado, inerte ... morto!

Às vezes penso em quantas pessoas diariamente se veem em momentos semelhantes a este. Na maioria das vezes suas vidas sofrem mudanças tão abruptas que elas não conseguem dimensionar como será o minuto seguinte, a hora seguinte, os dias e meses seguintes. Enfim, a vida daquele momento em diante.

Pode ser que alguém muito importante em sua vida esteja severamente doente e morra, ou pode ser a perda de um emprego, a descoberta de uma doença debilitante. Tudo isto por si só pode tirar a estrutura e o bom senso de alguém. Eu passei por tudo isto de vez!

Meu sogro enfartou, adoeceu e posteriormente veio a falecer. Perdi meu emprego de anos, sem antes descobrir que estava com uma severa doença nos olhos, e para culminar todo o processo, tomei uma decisão errada em um momento de desespero, o que resultou na perda de meus privilégios. Foi como avistar um oásis em meio ao deserto que estava passando. Um convite, uma festa de casamento e menos de três meses depois, tudo em que eu baseava minha vida foi parar no ralo.

Gostaria de lhes dar boas notícias, mas não é o caso ainda neste quesito. Sim, segui em frente respondendo à sua pergunta.

Após três anos, tenho hoje um emprego que gosto muito. Minha visão foi restabelecida e a dor pela perda de meu sogro ainda persiste, mas sem nos angustiar, afinal, ele era um homem bom, muito bom!

Mas ainda não ressuscitei para as coisas que realmente me davam real prazer na vida. As coisas que me moviam e estimulavam. As coisas espirituais! O ano de 2011 foi um divisor de águas em minha vida espiritual. Sinto saudades de como eu era antes de tudo isso, da fé e alegria que eu tinha antes e dos meus objetivos.

Hoje, por mais que eu persista fortemente, me sinto muito vazio e sem foco, pois minha vida toda se baseou nesta vida que escolhi para viver. Mas, mesmo assim eu persisto e tenho esperança de que coisas boas ainda virão pela frente, até porque afinal, a vida é feita de recomeços, mesmo que tardios.


Desejo a você que sempre visita o Blog, que não perca a esperança em meio ao caos que em alguns momentos aflige as nossas vidas. Viver às vezes pode ser bem complicado, mas o viver em si é algo maravilhoso. Não esqueça: A vida é um presente lindo e quem lhe deu este presente não aceita devoluções.