sexta-feira, 29 de março de 2013

Páscoa

- Papai, o que é Páscoa?

- Ora, Páscoa é ... bem .. é uma festa religiosa!

- Igual Natal?

- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na páscoa, se não me engano comemora-se a sua ressurreição.

- Ressurreição?

- É, ressurreição! ... Marta, vem cá!

- Sim?

- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.

- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?

- Mais ou menos .. Mamãe, Jesus era um coelho?

- Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe!

- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?

- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

- O Espírito Santo também é Deus?

- É sim.

- E Minas Gerais?

- Sacrilégio!!!

- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?

- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas quando você for no catecismo a professora explica tudinho!

- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?

- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.

- Coelho bota ovo?

- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!

- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?

- Era, era melhor, ou então urubu.

- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?

- Isso eu sei: na sexta-feira santa.

- Que dia e que mês?

- ??????? Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.

- Um dia depois.

- Não, três dias.

- Então morreu na quarta-feira.

- Não, morreu na sexta-feira santa ....... ou terá sido na quarta-feira de cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! 

- Como? 

- Pergunte à sua professora de catecismo!

- Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?

- É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas.

Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

- O Judas traiu Jesus no sábado?

- Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!

- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?

- É, boa pergunta. Filho, atende o telefone pro papai. Se for um tal de Rogério diz que eu saí.

- Alô, quem fala?

- Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?

- Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau!

- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

- Cristo. Jesus Cristo.

- Só?

- Que eu saiba sim, por quê?

- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

- Coitada!

- Coitada de quem? 

 - Da sua professora de catecismo!"

Luiz Fernando Versíssimo

Páscoa ... por Rubem Alves

A crônica acima de Luiz Fernando sobre a Páscoa é hilariante. Como pôde perceber, foi um diálogo absurdo entre um menino, seu pai e sua mãe, sobre o sentido dessa festa. É digno de nota que a crônica termina com uma observação justíssima do menino. Disse ele:

- "Eu acho que ao invés de "coelho da páscoa" deveria ser "galinha da páscoa ..." 

Pois é claro. Todo mundo sabe que coelhos não botam ovos. E todos sabem que galinhas botam ovos! Confesso minha ignorância: não sei como é que o coelho entrou nessa estória. Para início de conversa é preciso lembrar que os textos sagrados não fazem referência alguma a esse animalzinho fofo. 

Quem foi que teve a ideia de torná-lo o personagem mais importante dessa celebração cristã?

Certamente um gozador. E para tornar a estória mais absurda, fizeram com que os coelhos, que não botam ovos, botassem ovos de chocolate!

Agora vem cá?!

Nos tempos de Jesus Cristo havia chocolate? Acho que não. Galinhas não são seres poéticos. Na poesia elas sempre aparecem como bichos engraçados, cacarejantes, de inteligência curta, cuja única função é botar ovos e serem transformadas em canja.

Na crônica citada, o embaraço dos pais e a pergunta do menino revelam a confusão que marca essa festa. Ninguém sabe direito o que é que está sendo celebrado. E, para dizer a verdade, acho que são bem poucos aqueles que fazem alguma celebração. Até porque para muitos hoje, Páscoa é fim de semana santa, feriado de três dias, a praia está esperando, hora de se preparar para a viagem ... é como uma casca de cigarra presa no tronco de uma árvore.

Vazia ... morta!

Não tem nada lá dentro. Mas já foi o corpo de um ser vivo que, cansado de ficar preso na casca, criou asas e voou. A Páscoa, com seus ovos de chocolate, é celebração inconsciente de um tempo que não existe mais, tempo em que se acreditava. 

Os ovos de chocolate, vocês sabem ... são tão ocos tanto quanto as cascas de cigarra!

Sem dúvida muita gente quando fala de páscoa, só vê ovo de chocolate. Pensam na ressurreição como algo que aconteceu faz muito tempo, num lugar distante. (Impossível. Mortos não ressuscitam.) E pensam em algo que acontecerá de novo num tempo distante, muito longe ... no futuro ( Impossível. Mortos não ressuscitarão.) Mas a poesia não conhece nem o passado e nem o futuro. O passado sobre que a poesia fala é presente na memória e nos sentimentos. O futuro sobre que a poesia fala é presente na esperança. 

Assim os poemas da ressurreição falam sempre do presente. A Morte é agora. Nós somos o túmulo. "Quem anda duzentos metros sem vontade anda seguindo o próprio funeral vestindo a própria mortalha...' 

Muita gente morreu e não percebeu. Mas a ressurreição pode acontecer também agora.

Rubem Alves (Texto parcial)

sábado, 23 de março de 2013

Tô chegando ...

Fala pessoal, belezinha?

Já que a vida é um eterno recomeçar, brinde comigo este momento. 

Ando numa fase de descoberta comigo mesmo e curtindo essa nova fase da vida.

De melhoras, de boas companhias ... inclusive a minha!

Jogando fora os velhos papéis, dando mais tempo pros pensamentos bons. 

Dando mais importância para quem me quer bem e feliz. 

Reciclando ... amadurecendo ... acreditando ... transformando. 

Casando comigo mesmo ... num relacionamento que dura para sempre.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Só o amor não basta!

Aos que não casaram, aos que vão casar, aos que acabaram de casar, aos que pensam em se separar, aos que acabaram de se separar, aos que pensam em voltar…

Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja.

O amor é único como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus. A diferença é que entre marido e mulher não há laços de sangue e a sedução tem que ser ininterrupta…

Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna.

Casaram!

Te amo pra lá, te amo pra cá ... Lindo - mas insustentável! O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas. Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes, nem necessita de um amor tão intenso.

É preciso que haja, antes de mais nada: respeito, agressões zero, disposição para ouvir argumentos alheios e muita paciência. Amor só, não basta! Não pode haver competição, nem comparações. Tem que ter jogo de cintura, para acatar regras que não foram previamente combinadas. Ah, e muito bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades, tem que saber levar.

Amar só é pouco.

Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar. Tem que ser um bom psiquiatra. Não adianta apenas amar.

Entre casais que se unem visando à longevidade do matrimônio, tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança, certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa necessariamente fusão. E que amar “somente”, não basta.

Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom e que pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.

O amor é grande, mas não são dois.

Tem que saber se aquele amor faz bem ou não, se não fizer bem, não é amor. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Sendo assim:

Um bom Amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!

Artur da Távola

terça-feira, 12 de março de 2013

Eu sei ...

Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.

Tá me entendendo?

Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. 

Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. 

Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também.

Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. 

Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto.

Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. 

Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.

Remar ... 
Re-amar ... 
Amar! 

Caio Fernando Abreu

domingo, 10 de março de 2013

Fatos ...

Apesar dos nossos defeitos, precisamos enxergar que somos pérolas únicas no teatro da vida e entender que não existem pessoas de sucesso e pessoas fracassadas.

O que existem são pessoas que lutam pelos seus sonhos ou desistem deles.

Augusto Cury

sábado, 2 de março de 2013

Fugindo da dor

"Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da suposta visita da dor, soltamos os cães. Apagamos as luzes. Fechamos as cortinas. Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos. Ficamos quietinhos, poucos movimentos, nesse lugar escuro e pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos em casa."

Fala pessoal, belezinha?

O texto acima, de autoria da Ana Jácomo resumia perfeitamente meu penoso percurso vivido que perdurou um longo período de minha vida. Quem acompanha meu blog, pôde observar em muitas de minhas postagens a minha notória introspecção.

(Uma pequena observação: O texto citado abaixo, foi escrito em Março de 2013, liberado somente agora em 2016. Graças ao meu bom Deus, já não me sinto mais assim. Deixei de olhar para trás, recuperei minha autoconfiança e olho para adiante ... confiante. O sol sempre volta a brilhar, não tenho dúvida disso. Persevere!)

Essa introspecção tem me levado a analisar os diversos fatores que me levaram a estar ou ficar assim. Sim, a pessoa que vos escreve neste momento é muito diferente - ao menos em tese - da que procurou este espaço para fragmentar-se entre um texto e outro.

O "eu" de hoje, está muito acuado, distante de tudo e de todos, desesperançoso e apático. O "eu" de antes, tinha as suas dificuldades mas ainda conseguia levantar-se vez por outra, por que acreditava piamente em dias melhores.

Mas, independente das coisas que se passaram sempre procurei postar bons textos, mensagens motivadoras e recheadas de fé e otimismo. Vez por outra num descuido me expunha mais claramente ... mas não como hoje. Acho que hoje estou engasgado e a tristeza me deixou tão angustiado e estagnado que se não expusesse meus motivos, estaria sendo injusto comigo e com todos que acompanham este modesto blog.

Um ano, cinco meses e longos dias me separam de dias melhores. As coisas quando aconteceram foram todas de uma vez, parece que em determinado momento fui marcado com um grande "x" no peito e as flechas não cessaram em acertá-lo até que eu estivesse terminantemente prostrado ao chão.

Alguns dos acontecimentos mais complicados como já mencionados aqui em alguns textos do segundo semestre de 2011 envolviam minha perda de visão que começou com uma simples conjuntivite. Jamais poderia imaginar que aquela sutil irritação na visão seria o prenúncio de sucessivas e desagradáveis surpresas.

Na sequencia, problemas na empresa culminariam em minha dispensa depois de quase dez anos de trabalho. Para que você tenha uma ideia da minha situação no momento, tente usar de empatia e imagine-se sem poder enxergar direito, ter que treinar uma outra pessoa neste meio tempo e saber que não receberia todos os seus direitos legalmente pois a empresa enfrentava turbulências diversas.

No comecinho de 2011, eu e minha família fomos convidados para o casamento de uma garota que conheço desde que era uma menina, esse casamento realizou-se no mês de Agosto. Comparecemos! 

A festa estava linda e os noivos felizes. Passados quase um mês, fui informado de que não deveria ter ido pois a noiva embora cristã, casou-se com alguém não batizado, muito embora ele estivesse dando os passos para isso e faltasse apenas meses para seu batismo. Na época, servia como ancião de congregação e esta "desatenção" renderia angústias maiores. 

Hoje fazendo esta introspecção, percebi que naquele momento estava tão fora de mim com as questões de saúde e os problemas na empresa que nem me dei conta do princípio registrado em 1 Coríntios 7:39 sobre casar-se somente no Senhor. Esqueci-me completamente da situação do rapaz e só me dei conta disso quando fui informado depois de um mês. Mas infelizmente naquela altura, a coisa toda tinha tornado-se viral.

Neste meio tempo minha conjuntivite evoluiu para conjuntivite hemorrágica e finalmente para ceratite. 

Angústia, angústia e angústia!

Dia 30 de Setembro, outra surpresa: meu patrão ao sair da empresa para uma viagem erra o caminho e para num local para pedir informações. Nem bem parou e foi surpreendido por um ladrão que atirou nele. Quase que simultaneamente, no dia 02 de Outubro tive minha primeira reunião de reavaliação na congregação, estava esgotado com tudo aquilo, mas as coisas não paravam de acontecer.

Dez dias depois de ter sido baleado, meu patrão veio a falecer e com sua morte mais uma avalanche de incertezas, pois agora mais sessenta colaboradores juntaram-se ao mesmo barco que eu. Estávamos no Titanic, o capitão não existia mais e o futuro para mim era mais incerto do que no início.

Dia 12 de outubro, subi pela última vez na tribuna como Superintendente de Congregação, 14 dias depois no dia 26 de Outubro recebi a confirmação de que seria desqualificado. Saí esmagado da reunião e desde aquele dia perdi uma coisa importante que não consigo mais reaver. Minha força, minha gana, minha paixão pela vida! 

Outubro terminou, Novembro veio e acabou, Dezembro veio e no último dia do ano de 2011 fui informado que a carta que confirmava o que já sabia chegou. A informação de minha desqualificação foi dita a congregação no dia 04 de Janeiro de 2012. Neste mesmo dia também foi o dia da demissão em massa da empresa a qual eu pertencia. Felizmente recebemos nossos dividendos!

Com esse benefício entrei no meu apartamento e apaguei as luzes, fechei as cortinas, tranquei as portas com chaves, cadeados e medos. E lá fiquei quietinho para a vida não desconfiar que estava em casa. O ano de 2012 correu normalmente lá fora, nas poucas vezes em que saí. 

Mas ele se foi e 2013 chegou, já estamos em Março e nada mudou positivamente neste tempo todo. Sei que preciso reagir, já estou perdendo amigos, estou perdendo tempo, estou perdendo a vida que passa aceleradamente lá fora. 

Gostaria de ser mais resiliente, mas hoje apesar deste desabafo, sinto que por menos esperança que eu tenha, sinto que ainda posso viver dias melhores. Preciso querer, preciso buscar ... por que sou merecedor, pois tudo que vivi foi com muito amor!