Já é sabido que as coisas duram o tempo que têm que durar e por mais que muitas vezes o término delas nos pareça injusto, desnecessário ou até mesmo fatal, é preciso que aceitemos os rompimentos que a vida nos impõe.
Isso, no entanto, não impede que dentro de nós precisemos de um tempo para digerir as perdas.
Mágoa, tristeza, vazio, angústia, revolta, insegurança, cada um desses sentimentos requer um tempo para que possa se acalmar dentro de nós. Ninguém sai ileso do encerramento de etapas desgastantes da vida e o coração suplica por um espaço para regenerar-se, reconstruir-se.
O gosto amargo que fica na boca, a sensação de fracasso, a tristeza muitas vezes embutida dentro do peito são aflitivas, porém, naturais e fazem parte desse processo doloroso.
É imprescindível que um período de luto seja vivido para que depois voltemos a renascer para a vida. Não me refiro a duras depressões, embora muitas vezes elas sejam inevitáveis, o que desejo pontuar é que todo ser humano quando enfrenta suas perdas tem direito ao silêncio, ao recolhimento e ao respeito por parte de terceiros.
Tantas vezes os "terceiros" na ânsia de ajudar se tornam inconvenientes, insistentes, excessivamente presentes. Falta-lhes a sensibilidade, a compreensão, a delicadeza nas palavras, o apoio na medida certa.
Ninguém se recupera de um tombo correndo em maratonas, isso seria forçar demais a natureza. Um tombo sempre gera feridas e que sejam superficiais ou profundas, não importa, elas precisam ser tratadas até cicatrizarem.
Caso você esteja com feridas ou até mesmo fraturas expostas, cuide delas com carinho, sem pressa, sem ansiedades e tenha a certeza que você vai se recuperar, o tempo é o grande remédio para isso.
Caso você esteja próximo de uma pessoa que está vivendo essa situação ofereça- lhe medicamentos capazes de ajudá-la a se curar. Respeito, confiança, companhia dentro de limites, força e tente guiá-la até o caminho da fé pois nesses momentos as pessoas tendem a se distanciar dela.
E tenha uma certeza, um sorriso sincero valerá bem mais que uma gargalhada espalhafatosa, uma única palavra pode ser mais valiosa do que horas de uma conversa fútil e um afago terá um valor imensurável.
As perdas que vamos tendo no decorrer da nossa efêmera existência na verdade não são perdas, elas existem apenas para que tudo que já se encontra com o prazo de validade vencido dentro da nossa vida seja removido a fim de dar espaço a novos recomeços.
Silvana Duboc
Silvana Duboc